quarta-feira, 24 de outubro de 2012

AS HABILIDADES DE ENSINO


             A atitude do educador em sala de aula é decisiva para a conquista da confiança dos alunos e para o fluxo tranquilo das atividades desenvolvidas. Anna Maria Carvalho identifica as principais habilidades de ensino, que nada mais são do que os conjuntos de comportamentos do professor, quando este está face a face com seus alunos, possíveis de serem definidos, observados e quantificados. Dentre as muitas habilidades de ensino definidas por vários autores, selecionamos cinco — as habilidades de introdução, de variação, de questionamento, de reforço e de ilustrar com exemplos —, que, a nosso ver, são as mais importantes quando o foco central do curso de formação de professores é aumentar a interação professor– aluno em sala de aula.

Anna Maria Pessoa de Carvalho (1989) ainda destaca, além dessas cinco habilidades, uma outra habilidade que a de olhar para o aluno.
1 Habilidade de Olhar para os Alunos
Observamos que um dos comportamentos que aparece com uma frequência muito aquém da esperada é o de olhar para a classe, olhar para os alunos. O professor, no início de sua carreira, fica tão preso ao conteúdo da aula, ao quadro ou ao material didático que preparou que acaba dando uma aula para ele mesmo, e não para seus alunos. É comum o professor desabafar nas conversas após o término da aula, já na sala dos professores: “Estava tão nervoso que não consegui ver ninguém”.
O ver o aluno, o distinguir quem está entendendo daquele que está em dúvida e, principalmente, o olhar para aquele aluno que quer falar, quer perguntar, mas não está com coragem, são comportamentos primordiais na formação de um bom professor.
Durante a elaboração de uma pergunta ou de uma explicação, é necessário retirar da fisionomia dos alunos a certeza de que eles entenderam o que se está perguntando ou explicando. Quantas vezes não existe resposta por parte dos alunos, não porque estes não saibam o assunto, mas porque não entenderam a pergunta e o professor não conseguiu perceber esse fato? E de que adianta o professor saber fazer perguntas claras e benfeitas se não der oportunidade a alguém de respondê-las? O incentivar a classe com um olhar, procurando quem possa ou quem queira responder a pergunta feita, é um comportamento totalmente diferente, em termos de participação, de um olhar vago ou fixo em um ponto à espera da resposta de um aluno qualquer.
Quando o professor responde a um aluno em particular, o seu olhar deve abranger toda a classe, pois é importante ver se os outros alunos estão entendendo e interessados no debate. Esse feedback é essencial, pois o professor necessita saber se continua ou se precisa cortar esse diálogo.
            2 Habilidade de Introdução
A habilidade de introdução correlaciona-se com a maneira como um professor inicia sua aula ou mesmo uma unidade dentro da aula. No início da unidade de ensino, é tarefa do professor ganhar a atenção dos alunos e motivá-los para o conteúdo que ele pretende ensinar. É preciso também que o professor estruture, de maneira clara, as tarefas necessárias para o desenvolvimento do trabalho, bem como relacione o que vai ser apresentado com o que o aluno já sabe. Grande parte do sucesso de uma aula advém do uso correto da habilidade de introduzir o tema que será ensinado aos alunos.
Segundo Trott e Strongman (1979), essa habilidade pode ser subdividida em quatro componentes, todos de “vital importância em estabelecer a harmonia necessária no início de cada episódio de ensino”. São eles:
- Ganhar atenção: o professor usa voz, gestos e contatos visuais; utiliza recursos audiovisuais; muda o padrão de interação professor–aluno.
- Motivar: o professor conta uma história, introduz um elemento-surpresa, mostra um fenômeno concreto; principalmente, tem, em relação ao conteúdo apresentado, uma atitude entusiasmada, pois o que mais desmotiva uma aula é a falta de interesse do próprio professor para com o assunto que ele está ensinando.
- Relacionar: o professor dá e pede exemplos relacionados com a vida diária dos alunos; relaciona o conteúdo que está sendo apresentado com a aula anterior (ou com conteúdos já vistos pelos alunos); faz uma pequena revisão da aula anterior antes de estruturar a presente aula; compara, contrasta com coisas que os alunos já sabem.
- Estruturar: o professor limita, de maneira clara, a tarefa que os alunos deverão fazer; fala sobre os objetivos a que a tarefa se propõe, sugere ou faz uma série de perguntas induzindo os procedimentos de como executar a tarefa.
3 Habilidade de Variação de estímulos
A habilidade de variação está relacionada com a capacidade do professor de variar os estímulos oferecidos aos alunos durante a apresentação de um conteúdo. Ela se baseia no fato de que a atenção dos alunos é mais intensa e se mantém durante mais tempo quando existe uma variação de estímulos. Além disso, essa habilidade está relacionada com o fato de ser o professor o grande “ator” dentro de uma sala de aula, e, por isso, ele precisa estar consciente da utilização de sua própria pessoa como uma fonte de variação e estímulo. Essa conscientização é necessária, não para limitar a sua atuação, mas, ao contrário, para libertá-lo, para que pense sobre os seus comportamentos e a potencialidade pessoal que pode ser aproveitada, respeitando, é claro, o estilo individual que cada professor tem ao dar uma aula.
Para podermos analisar melhor essa habilidade, vamos subdividi-la em três componentes: a participação do professor, o estilo de interação professor–aluno e a pausa.
Participação do professor
O professor deve jogar com vários fatores pessoais para que sua aula não se torne monótona. Entre esses fatores, podemos citar:
- Movimentos: um simples componente dessa habilidade é o professor se movimentar pela classe. O fato de ir até as carteiras dos alunos ou passear entre as fileiras pode tornar os alunos mais atentos à lição. Entretanto, deve-se tomar cuidado para não distrair os alunos em vez de fazê-los prestarem mais atenção.
- Gestos: os gestos de cabeça e corpo tornam a apresentação de um professor mais expressiva. Muitas vezes, a gesticulação do professor não só é desejável, como também necessária, por exemplo, quando precisa chamar a atenção para um determinado ponto de um esquema, de uma fórmula, de um aparelho. A combinação de voz e gestos nesses casos é imprescindível para os alunos acompanharem a explicação.
- Variação no padrão da exposição: o professor varia a velocidade e o volume da voz. Varia também a maneira de falar, principalmente introduzindo perguntas.
Estilo de interação professor–aluno
Um fator muito importante para dinamizar uma exposição é a introdução da participação do aluno. A variação no estilo de participação dos alunos numa aula, assim como a própria participação do aluno, promove um maior interesse deste pelas aulas. Essa interação professor–aluno pode ser induzida de três diferentes maneiras:
- O professor faz perguntas para a classe de maneira geral, podendo a pergunta ser respondida por qualquer um dos alunos.
- O professor faz a pergunta dirigindo-se de antemão para um determinado aluno.
- O professor pode estimular a interação aluno–aluno.
Pausa
A pausa é uma figura muito usada, não só por conferencistas, como por atores, para aumentar a atenção de quem ouve. A pausa deve ser estimulada no treinamento dos professores, pois ela:
- Separa blocos de informações dentro de um conteúdo estruturado.
- Capta atenção, promovendo uma mudança nos estímulos apresentados e, consequentemente, uma maior atenção por parte dos alunos.
- Causa tensão, o que acarreta uma busca de solução, pelos alunos, para aliviar a tensão.
4 Habilidade de Questionar
A habilidade de formular perguntas é, talvez, a mais complexa das habilidades desenvolvidas pelo professor em sala de aula e, sem dúvida alguma, a mais difícil de ser treinada.
Além de promover o desenvolvimento intelectual dos alunos, o questionamento proporciona ao professor o feedback necessário para se certificar se eles estão acompanhando-o no desenvolvimento da matéria ensinada. Sem esse perguntar e responder, é bem possível, mesmo frequente, que o professor chegue ao fim da aula sozinho, ou com um número muito pequeno de alunos acompanhando-o; o restante da classe foi ficando para trás em diversos instantes, em diversas etapas. A esses alunos, resta muito pouco a fazer em classe, além da indisciplina.
Para facilitar o treino na habilidade de questionar, vamos estudá-la sob dois pontos de vista: quanto à utilização dada pelo professor e quanto ao nível de complexidade.
Em relação à utilização dada pelo professor, podemos classificar as perguntas em:
- Perguntas esclarecedoras: são as que têm por objetivo avaliar a eficiência do ensino levando o aluno a reformular aquilo que está aprendendo. Estão também nessa categoria as perguntas sobre assuntos já tratados, mas relacionados com o atual. O objetivo fundamental das perguntas esclarecedoras é proporcionar feedback ao professor.
- Perguntas estimuladoras: são as elaboradas visando levar o aluno a uma descoberta, a um determinado fim. Estimulam o pensamento criativo dos alunos, envolvendo-os em situações problemáticas. Na maioria das vezes, são elaboradas em seqüência, de tal forma que as respostas dos alunos à primeira provocam a pergunta seguinte e assim sucessivamente, até o professor chegar a um ponto predeterminado. Os exemplos mais felizes dessa seqüência de perguntas estimuladoras encontram-se no livro Convite ao Reacionário, de Schwab (1972).
- Perguntas sem sentido: são as que não levam a parte alguma (infelizmente, as mais comuns). São geralmente feitas pelo professor no início ou no fim de um assunto e nunca obtêm resposta dos alunos; ao contrário, os inibem. Exemplos típicos de perguntas sem sentido: Vocês entenderam o que acabei de explicar? Quem tem dúvidas? Quem não entendeu? Vocês lembram como expliquei na aula passada?
5 Habilidade de Reforço
Vamos subdividir a habilidade de reforçar em reforço positivo — comportamentos do professor: (1) elogiar seus alunos quer verbalmente, quer por meio de gestos e acenos de cabeça; e (2) aceitar as ideias dos alunos, repetindo-as com suas palavras para a classe, por exemplo, “O que o José quis dizer é... , e está perfeitamente correto”, ou escrevendo-as no quadro — e reforço negativo, pelo qual entendemos toda a crítica aos alunos, quer aos seus comportamentos em aula, quer à sua participação intelectual.
O treinamento dessa habilidade deve ser feito em duas etapas: fazer com que os professores passem a elogiar e aceitar as ideias dos alunos e também que deixem de criticá-Ios.
A primeira fase é fácil. Basta que o professor assista pelo videoteipe à sua aula e conte quantas vezes poderia dizer “Ótimo”, “Muito bem”, “Você está certo”, etc. Assistindo à sua segunda microaula, quando ele propositadamente elogiou os alunos, e observando agora a expressão alegre destes ao serem elogiados ou ao verem aceitas suas ideias, essa impressão se torna muito forte e faz com que os elogios e as aceitações das ideias apareçam normalmente nas outras aulas.
A segunda fase é mais difícil, pois, se um aluno fala alguma coisa errada, instintivamente o professor diz: “Não, isto está errado”, e, quando vamos discutir esse comportamento, ele sinceramente acha que estava certo — como professor, seu dever é ensinar o que é certo e o que é errado.
6 Habilidade de Ilustrar com Exemplos
Essa é uma habilidade que o professor necessita apenas sistematizar, pois o problema de exemplificar uma regra ou um conceito ou uma lei é natural em quase todos os estagiários que vão dar aulas, pois todos nós sabemos que, relacionando o que queremos ensinar com o dia-a-dia dos alunos, estes prestam mais atenção, entendem melhor nossas ideias e, consequentemente, têm uma aprendizagem mais eficiente.
O importante no treinamento dessa habilidade é relacioná-Ia com a habilidade de fazer perguntas, pois os exemplos não devem ser dados só pelo professor, mas também pelos alunos. Lembramos que um bom método de verificar se eles entenderam o que explicamos é ver se são capazes de exemplificar as ideias apresentadas.
Essa habilidade, então, deve ser entendida nos dois sentidos: o professor exemplifica para os alunos, que, por sua vez, são capazes também de exemplificar para ele (ou para a classe). Podemos notar que essa habilidade está muito interligada à habilidade de proporcionar feedback.
Transcrição do texto As Habilidades de Ensino (CARVALHO, Anna Maria Pessoa de. Prática de Ensino: os Estagiários na Formação do Professor. São Paulo: Pioneira,
1989. p. 49–60).
Fonte:Resumo do texto de Sílvia Pereira é professora da Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE/Educação.
Referência: Profª. Dra. Sílvia Pereira/ Doutora em Ciência da Educação

























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