José Régio, em seu Cântico Negro, que em alguns extratos diz:
Vem por aqui, dizem-me alguns
com olhos doces, estendendo-me os braços
e seguros de que seria bom se eu os ouvisse.
Quando me dizem: Vem, vem por aqui!
Eu olho-os com olhos laços
que há nos meus olhos ironias e cansaços,
eu cruzo os braços e nunca vou por aí.
Não, eu não vou por aí,
eu vou por onde levam os meus próprios passos.
Se ao que busco saber
nenhum de vós me respondeis,
por que me repetis: Vem, vem por aqui!
Eu prefiro escorregar nos becos lamacentos,
redemunhar aos ventos feito farrapos,
arrastar os pés sangrentos
a ir por aí.
Tendes estradas, tendes tratados,
Tendes filósofos, tendes sábios.
Eu tenho a minha loucura
e levanto-a como um facho.
Eu amo o longe e a miragem,
Eu amo os abismos, as torrentes e os desertos.
A minha vida é um vendaval que se soltou,
é uma onda que se levantou,
um átomo a mais que se animou.
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou,
Mas sei que não vou por aí.
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